Pelas lentes da emoção

O Jornalismo me deu oportunidade de cobrir algumas encenações da Paixão de Cristo. Mas, foi a fotografia que me ajudou a mergulhar mais fundo nesse universo tão fascinante. Já tive a oportunidade de acompanhar os bastidores de várias produções teatrais em minha cidade, mas há uma aura diferente quando falamos em teatro sacro. Perceptível principalmente nos minutos que antecedem as apresentações. Como se os atores estivessem envoltos em um grande campo de luz.

Imagino a responsabilidade do elenco em contar, todos os anos, uma trama com mesmo roteiro e desfecho, que atravessa os séculos graças aos registros da Sagrada Escritura. Mas, na hora, a mágica sempre acontece e tudo é acompanhado com muita atenção pelo público. Como quando lemos o mesmo livro, mais de uma vez... Em cada fase da vida, a leitura ganha novos significados, novos contornos, embora a essência seja mantida.

Capturar com as lentes as expressões dos atores do Grupo de Teatro Sacro Dom Carlos Alberto Navarro é algo tão gratificante quanto assistir às suas performances sempre carregadas de entrega e emoção. Emoção que, muitas vezes, faz com que lágrimas embacem os olhos, dificultando a captura das imagens. Aconteceu comigo durante a cobertura fotográfica da Paixão. Aconteceria novamente se, mais uma vez, fosse registrar as cenas.

As que mostram o martírio de Jesus e a crueldade da crucificação são as que mais doem. Assim como dói pensar que uma nova crucificação seria uma possibilidade diante de uma sociedade que parece não ter aprendido a lição do calvário. Que a beleza dos espetáculos anuais crie reviravoltas nas consciências e desperte em cada um a necessidade de renascer.