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Quando conheci Cícero...

Patrícia Bueno

Por Portal Evidência em 20/06/2022 às 21:02:31

Patrícia Bueno

Na beira da estrada, o nome gravado em uma placa de madeira fazia jus àquele que cuidou de terras tão almejadas. Estava pela segunda vez no sítio Brava Gente, lugar que, simbolicamente, virou território sagrado da luta por um pedaço de chão. A visita foi uma espécie de laboratório para o espetáculo "Meu Nome é Cícero", que estrearia em breve e para o qual faria as fotos de divulgação.

Logo me veio à mente a primeira vez em que estive no Brava Gente. Foi por conta do ofício de jornalista. A pauta era agricultura familiar e o personagem, um homem simples, do campo, que conseguira finalmente um lugar para plantar e cuidar da família. Cícero nos recebeu de maneira extremamente gentil. Na época, nem imaginava estar diante de uma liderança tão representativa. Com voz firme, demonstrava sabedoria no manejo da terra e muito, muito orgulho do que cultivava. Enquanto conversávamos, explorávamos a propriedade, fruto da luta que, mais tarde, lhe custaria a vida.

Desta vez, buscávamos inspiração nas terras por onde Cícero caminhou, semeando sonhos, plantando ideias revolucionárias, capazes de transformar realidades. Além da conquista da terra, a missão era a busca por dignidade, pelo ideal de justiça para todos, a vitória do coletivo sobre o individual.

Mas, foi na estreia que percebi a força daquele homem. Nunca tinha visto uma plateia tão envolvida, atenta, emocionada. É claro que isso muito se deve ao excelente texto de Adriano Moura, ao elenco, formado por Adriana Medeiros, Arnaldo Zeus, Tim Carvalho e Gualter Torres, que soube conduzi-lo de maneira brilhante e, claro, à trilha impecável composta pelo músico Matheus Nicolau, além do trabalho de uma equipe afinada nos bastidores.

Contudo, quem estava lá, naquele domingo de Trianon lotado, há de concordar que havia algo especial no ar. Algo que ia além da expectativa da estreia. Vi pessoas chorando, momentos de euforia, de coração batendo forte. As cenas me transportaram ao sítio Brava Gente, ao brilho nos olhos daquele homem simples e determinado que ajudou a pavimentar a estrada e deixou um legado de coragem.

A reação da plateia, ao final, aplaudindo de pé, foi como semente brotando do chão, fazendo renascer também a esperança em um território que às vezes parece tão árido, onde ativistas pagam com a vida o preço de sonharem com um mundo mais justo.

Saí do teatro com uma certeza: as balas que atingiram o homem Cícero não acertaram o líder Cícero, que segue inspirando pessoas a contarem sua história. Ainda há curvas perigosas no caminho, mas, como diz o poeta Matheus Nicolau na canção: "quem sonha junto não morre; tá vivo em quem segue sonhando".


Fonte: Patrícia Bueno

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