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Minha história com o Museu

Patrícia Bueno

Por Portal Evidência em 16/07/2022 às 19:55:27

Fotos: Patrícia Bueno

Como editora de Cultura do extinto Monitor Campista, até então o terceiro jornal mais antigo do País, por vezes, me sentia na própria Tipographia Patriótica, onde tudo começou, ainda nos tempos de Vila. Gostava de vasculhar o passado não só no nosso rico arquivo, com edições a partir de 1834, mas também de visitar casarões e igrejas centenárias a fim de desenterrar tesouros da nossa história. E foi uma dessas pautas que me levou ao Solar do Visconde de Araruama. A missão era denunciar o estado de abandono.

Anos mais tarde, foi grande a satisfação em rever o velho solar do Centro, já como Museu Histórico de Campos. Admirei-me com as condições do prédio que antes agonizava em ruínas no coração da cidade. A imagem que tinha do maltratado solar dera lugar a um espaço suntuoso, cujas paredes grossas guardam energias de outras épocas. Quase não acreditava no que via. Como se o sopro de esperança ao qual me referi tantas vezes finalmente se espalhasse pelos cômodos, restaurando cada centímetro do casarão.

Começava na fotografia quando pedi autorização para explorar aquele lugar inspirador e pelo qual desenvolvi uma intensa relação afetiva. Sobre o tapete vermelho da escada íngreme, admirava os detalhes dos corrimões e sacadas, a luz que descia macia da claraboia, o assoalho de madeira que emite sons nostálgicos a cada passo. A luz dourada dos lustres abraça os amplos salões, recortados de grandes portas que se comunicam na cuidadosa arquitetura do lugar.

No mês passado, retornei ao Museu. Dez anos se passaram e o velho casarão continua a mexer com minhas emoções. Não há como não vibrar quando se percebe vida em um local que se resumia a solidão, escombros, silêncio. Sim, o Solar do Visconde de Araruama é um espaço aristocrático, que representa a opulência da nobreza, mas que sussurra em nossos ouvidos notícias do passado. Notícias boas e ruins, que ora nos orgulham, ora nos envergonham, como o nefasto capítulo da escravidão ou o massacre de nossos antepassados indígenas. Sou levada pela melodia do tempo a cada visita. O tempo que corrói o templo nada pode quando existem esforços que mantém viva a memória do nosso lugar.


Fonte: Patrícia Bueno

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